domingo, 14 de junho de 2020

SOBRE A FRAGILIDADE DOS LAÇOS HUMANOS

Durante a quarentena decidi ler um livro que me ajudasse a compreender a sociedade atual. Entender nossa realidade através do olhar e estudo do Grande Sociólogo Polonês Zygmunt Bauman. A quarentena foi se prologando e os ânimos da população foram se alterando.
Uma parcela da sociedade pareceu não entender a importância desse distanciamento e essa pausa em alguns setores da economia. Até onde seria insciência, apatia ou desumanidade?
Obtive um pouco de luz sobre essa dúvida ao ler o livro “Amor Líquido – Sobre a fragilidade dos laços humanos.”, precisamente no terceiro capítulo intitulado “Sobre a dificuldade de amar o próximo” . Livro escrito em 2004 faz uma análise das relações dos cidadãos de uma cidade e como a relação de 2 grupos se torna quase ínfima.

Cito abaixo trechos do tal livro que elucida essa conceito :

..há uma crescente polarização e uma ruptura de comunicação ainda mais completa entre os mundos em que vivem as duas categorias de residentes urbanos.
(…) A imagem que emerge dessa descrição é de dois mundos segregados e distintos .
Os que vivem no primeiro desses dois mundos podem estar, como os outros , “no lugar” mas não são “do lugar” - decerto não espiritualmente , mas com muita frequência tampouco fisicamente , quando é seu desejo.
As pessoas da “camada superior” não pertencem ao lugar que habitam, pois suas preocupações se situam (Ou melhor, flutuam) alhures. Pode-se imaginar que ,além de serem deixadas a sós e portanto livres para se dedicarem totalmente a seus passatempos, e tendo assegurados os serviços necessários para as suas necessidades e conforto do dia a dia ( como quer que os definam) , elas não tem outros interesses na cidade em que se localizam as suas residências.
Os habitantes da camada inferior estão “condenados a permanecerem locais” - e portanto se espera, e deve-se esperar , que sua atenção , repleta de descontentamentos, sonhos e esperanças , se concentre em “assuntos locais”. Para eles , é dentro da cidade que habitam que a batalha pela sobrevivência e por u lugar decente no mundo é desencadeada , travada , por vezes ganha, mas geralmente perdida.
O desligamento da nova elite global em relação a seus antigos engajamentos com o populus local e o crescente hiato entre os espaços vivos/vividos dos que se separaram e dos que foram deixados para trás é comprovadamente o mais seminal de todos os afastamentos sociais, culturais e políticos associados à passagem do estado “sólido” para o estado “liquido” da modernidade ( Pág. 120 e 121) ...

Ainda nesse capitulo , Bauman utiliza da Pesquisa de uma brasileira e cita esse distanciamento exemplificados com casos em São Paulo:

Sobre São Paulo , a maior cidade do Brasil, caótica e em rápida expansão , escreve Teresa Caldeira: “São Paulo é hoje uma cidade de muros. Barreiras físicas foram construídas em toda parte – em torno de casas, prédio , parques, escolas e complexos empresariais… Uma nova estética da segurança modela todos os tipos de construções e impôe uma nova Lógica de vigilância e distância...”
Os que podem, vivem em ‘condomínios”, planejados como se fossem uma ermida : fisicamente dentro , mas social e espiritualmente fora da cidade. “supõe-se que as comunidades fechadas sejam mundos distintos . Nas propagandas que os anunciam propõe-se um ‘modo de vida completo’ que representaria uma alternativa à qualidade de vida oferecida pela cidade e seu espaço público deteriorado”
(…)
Em São Paulo , a tendência segregacionista e exclusivista se apresenta da forma mais brutal , inescrupulosa e desavergonhada. Mas pode-se sentir seu impacto, embora de maneira um tanto atenuada, na maioria das metrópoles. (pág. 130 e 131)

Então, ele cita a mixofobia, espaços interditados e a questão da importância da vivência com pessoas diferentes.

As novas construções , anunciadas com mais orgulho e as mais imitadas, são “espaços interditados” - “planejados para interceptar , repelir ou filtrar os usuários potenciais”. Explicitamente, o propósito dos “espaços interditados” é dividir, segregar e excluir – e não construir pontes, passagens acessíveis e locais de encontro, facilitar a comunicação ou , de alguma outra forma , aproximar os habitantes da cidade.
(…)
Na paisagem urbana, os “espaços interditados” se tornam marcos de desintegração da vida comunal compartilhada e localmente ancorada. (pág 132)

O impulso na direção de uma “comunidade de semelhança” é um signo de recuo não apenas em relação à alteridade externa , mas também ao compromisso com a interação interna, ao mesmo tempo intensa e turbulenta , revigorante e embaraçosa. A atração de uma “comunidade da mesmidade” é a segurança contra os riscos de que está repleta a vida cotidiana num mundo polifônico. Ela não reduz os riscos, muito menos os afasta. Como qualquer paliativo, promete apenas um abrigo em relação a alguns dos efeitos mais imediatos e temidos desses riscos.
(…)
Quanto mais as pessoas permanecem num ambiente uniforme – na companhia de outras “como elas”, com as quais podem “socializar-se de modo superficial e prosaico sem o risco de serem mal compreendidas nem a irritante necessidade de tradução entre diferentes universos de significações - , mais tornam-se propensas a “desaprender” a arte de negociar um modus convivendi e significados compartilhados. (Pag. 134 e 135)

A solução?

Conforme a famosa observação de Hans Gadamer em seu Livro Verdade e método , a compreensão mútua e instigada pela “fusão de horizontes“ - quer dizer, horizontes cognitivos, induzidos e ampliados nos cursos da acumulação de experiência de vida. A ‘fusão” exigida pela compreensão mútua só pode ser o resultado da experiência compartilhada , e esta é inconcebível sem que haja um espaço compartilhado.
( Pág. 138).






Outras informações:


O que é mixofobia?
A mixofobia é o típico medo de se envolver com estrangeiros, o diferente, o desconhecido.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Elefantes-Brancos

A expressão “Elefante-Branco” é designada a grandes projetos que na verdade não passam de uma bela capa, que muitas vezes não apresentam um bom conteúdo ou não tem continuidade quando há mudanças no governo.

Em Fortaleza na década de 90, eu e meus amigos freqüentávamos animadamente os equipamentos culturais e esportivos chamados CSU, ABC e Vila Olímpica. Nossa grande dúvida era escolher entre as variadas atividades oferecidas, como Ballet, Jazz, Volley, Natação, Futebol, Violão entre outros. Mas como o tempo passa e os governos também mudam, nós crescemos e fomos para Faculdade e alguns dos equipamentos Culturais fecharam ou funcionam precariamente.
Vila Olímpica
Infelizmente tive que presenciar isso, quando me destinei a ser educadora no bairro que moro desde criança. Apesar de eu estar apresentando e ensinando uma linguagem artística (Teatro) sabia que muitas outras crianças estavam sendo privadas de possibilidades. Não teriam o que eu tive na Infância. Esses equipamentos culturais e esportivos que citei estão sucateados e as crianças que não estão nesse seleto grupo de alunos estão ao relento cultural.

CSU
É verdade, que a cidade está apresentando várias possibilidades técnicas e profissionais na área artística, muito mais do que era disponibilizado para mim na adolescência. Vemos por um lado as próprias faculdades de Cinema, Dança, Artes Visuais e Teatro. Há também as extraordinárias Vila das Artes e Porto Iracema de Artes,que,sem dúvida entram nas minhas orações para não se tornarem um Elefante-Branco quando passadas as próximas eleições.
Mas o que acontece de fato e que é preocupante é que as crianças da faixa etária de 7 a 13 anos não tem autonomia ( e as vezes nem recursos) de pegar um coletivo e ir para o Centro da cidade desfrutar desses equipamentos culturais.

Minha grande pergunta é: Quando os olhos do governo serão voltados para a periferia, para os bairros violentos, para as comunidades carentes e nunca mais serão tirados de lá?
Quantos talentos já foram perdidos com esse esquecimento?
Quantos talentos poderão ser descobertos se o sol brilhar por aqui?

Isso é só um desabafo de uma professora que vê constantemente talentos serem desmotivados e esquecidos por falta de oportunidades! 
Não é justo com eles. Não é justo com um País que almeja que seus filhos não fujam da Luta!


 P.S: Não escrevo para criticar partidos ou governos específicos. Mesmo porque esses “esquecimentos” aconteceram nos últimos anos, independente do partido que estava no governo. E talvez eu esteja generalizando. Talvez em outros bairros seja diferente. Talvez...

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Te escrevo.Te confesso.


Há anos que não te escrevo.
Mas minhas palavras nem sempre são coloridas e iluminadas por holofotes!
Escrever é imortalizar esse momento. E quanto destes momentos necessitam serem imortalizados?

Estamos seguindo caminhos diferentes. Você entre leis e juízes. Defendendo bêbados e loucos... Vivendo cada dia como se tivesse várias vidas!

E eu?
Sinto entrando num caminho novo. Não sei o que encontrarei na próxima esquina. Não sei se devo cumprimentar o rapaz no bar e muito menos se ando ou corro.

É estranho. Assustador!

Mas não posso voltar para minha antiga trilha de tijolos amarelos.
Afinal, meus novos sapatos não combinam com esse caminho tão macio...
Que me permite pular muito alto, mas não garantem amortecer a queda.

Essa sensação de que não sei como será o THE END está me consumindo.
Por que essa necessidade de saber como termina cada capítulo?
Não dá pra saber o final da história antes de ler o texto.
Antes de Ouvir: -Gravando...
Pois não é permitido ser atriz na vida real.
Não há dramaturgia.
Não há como voltar e refazer a cena!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Fragmentos de um Romance Juvenil – Parte 1


Ela: - Eu pedi fantasia, pedi compreensão, pedi algo que nunca havia sentido. Pedi uma pessoa que fosse do bem. Pedi algo efêmero ou eterno, mas sendo “perfeito”.

Ele: - Você pediu alguém que quer arrombar todos os seus “cadeados” , como explorador e libertador?

Ela: - Eu pedi! Você pediu alguém para ser explorada e libertada?

Ele: - Pedi um novo mundo para descobrir, amar e crescer juntos.

Ela:- Não pedi alguém que me deixasse sem palavras. Mas parece que Deus também acha que falo demais.

Ele (rindo)- Fofinha ...posso te dar um beijo agora? Tarde demais! Eu já te dei...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Mesmo Assim...



Uma fragrância provoca mudanças.
Impregna sua alma tão profunda.
Metamorfoseando o impraticável.

Corra...

Olhe pra direita e esquerda.
Olhe pra dentro e pra fora.
Ouve o aqui o agora.
Podemos ler poesias e estórias.
Poderá ser rimas e chavões!

Não te disse que seria tudo igual  e fácil!
Até o sol tem preguiça de vestir a mesma lua todo dia.

Sei que não é alento, mas eu canto mesmo assim...


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A Língua das Mariposas.


 A Língua das Mariposas é um daqueles filmes que te inspiram linhas e mais linhas de cadernos e  pensamentos!

Educar e ser educado é sempre um assunto inesgotável de concepção.


"Pequenas lagartas no seu casulo não saberiam do futuro na sua caverna.   
Quando se é preciso fugir de suas paredes e só se foge do medo do que ainda nem é.
 Se não é imposto conhecer o que te causa medo?
Medo impensado, injustificável de cabelos brancos.
O que é temido torna-se seu aliado. 
O senhor dos ensinamentos!
Apresentando uma trilha mágica para quem está aberto para flores e borboletas."


"Velho sábio... Que com teus olhos vi o colorido, que na tua trilha conheci o longínquo.

Velho sábio ensina-me a sorrir.
Velho sábio, aceita meu presente e recompensa-me com seus livros.

Não Minta. Fale-me de maçãs e corações partidos.
Diga-me que posso!
Acredite em mim mais do que eu mesmo.

Eu prometo não te negar. Nem depois do canto do galo,
Nem mesmo após beijá-lo a face.
Não sou Judas, nem Pedro.

Habitas mais em mim do que na lei mundana.

Podes até partir, mas um pouco fica aqui."

     (Wanessa Araújo Papillon)